No início da Expansão Marítima Portuguesa, a culinária foi um dos principais meios de confraternização e de bom entendimento, com os povos desconhecidos. A interpenetração ou miscigenação cultural entre a Europa mediterrânica, a África e a Índia (nos territórios de Goa, Damão e Diu), é bem evidente na sua rica gastronomia, como a Cabidela, uma iguaria que atravessou os mares nas caravelas e naus da Rota do Cabo, sendo os países africanos os primeiros a adoptarem de bom grado essas cabidelas, sarrabulhos e sarapatéis, adaptando-os ao gosto e aos produtos da terra.

Com os Descobrimentos Portugueses, nos finais do século XV, durante as longas viagens transoceânicas, a experiência mostrou aos navegantes que o consumo de citrinos, como laranjas, limões, e conservas ácidas evitavam o flagelo do escorbuto, pelo que os picles passaram a fazer parte das equipagens dos navios.

Diogo Cão, nas suas duas viagens na busca do cabo de África, estabelece relações diplomáticas com o Manicongo, o rei do Congo, que lhe envia o seu embaixador Caçuta com um pedido para que el-Rei D. João II lhe envie padres para se fazerem cristãos e padeiras para ensinarem as suas mulheres a fazer pão ao modo Português.

Portugal era um grande exportador de sal para o Norte da Europa e também vendeu este produto na costa africana, pois os povos africanos logo perceberam a importância do produto para a conservação dos alimentos. O sal era também útil para conservar as carnes dos animais que caçavam e pescavam para comer, bem como as peles dos leões-marinhos, para serem mais tarde curtidas. Tinha ainda a vantagem de servir de lastro, necessário à estabilidade dos navios, sendo substituído na viagem de regresso pelas novas mercadorias.

Muitas das plantas que foram trazidas como prova destes "achamentos" de terras desconhecidas dos europeus, adaptaram-se muito bem aos climas temperados da Europa, passando a fazer parte da sua agricultura.

De Portugal partiram para África árvores de citrinos e outras como a figueira, cujos figos depois de secos eram enviados para as naus como alimento das tripulações, ou a romãzeira, de cuja casca se faziam infusões para combater a diarreia dos tripulantes e viajantes.

Os Portugueses introduziram o vinagre na cozinha Indiana e, mais tarde, os frades franciscanos da missão de Goa passaram a fabricar vinagre a partir de um vinho de palma, chamado toddy. O chacuti ou xacuti é um prato da culinária indo-portuguesa confeccionado com carne de frango, de cabrito ou de bovino, podendo também ser preparado com peixe, cozinhado com vinagre.

O vinagre é o ingrediente fundamental na preparação do Balchão ou Balchao, prato tradicional de Goa, Damão e Diu, uma iguaria que mostra como os portugueses fizeram a primeira globalização da Idade Moderna, pois o termo Goês balchao deriva do Macaense balichão, um molho típico da culinária de Macau, feito com camarões, aguardente, sal, pimenta, louro e malaguetas, entre outros ingredientes, que foi para a Índia pelos Portugueses.

Quanto ao "Porco Vindalho" ou Vindaloo, é uma carne de porco em vinha d'alhos, um prato típico da culinária Indo-Portuguesa de Goa, Damão e Diu. O nome resulta da contracção da expressão vinha d'alhos, tempero que foi, posteriormente, adaptado ao gosto local, que o complementou com malaguetas e especiarias. 

Ilustração do Tacuinum sanitatis, livro medieval sobre o bem-estar, baseado no Taqwim al sihha (Tábuas da Saúde), um tratado médico árabe de Ibn Butlan. | Illustration from “Tacuinum sanitatis”, a medieval book on well-being, based on the Taqwim al sihha (Tablets of Health), an Arabic medical treatise by Ibn Butlan.
Ilustração do Tacuinum sanitatis, livro medieval sobre o bem-estar, baseado no Taqwim al sihha (Tábuas da Saúde), um tratado médico árabe de Ibn Butlan. | Illustration from “Tacuinum sanitatis”, a medieval book on well-being, based on the Taqwim al sihha (Tablets of Health), an Arabic medical treatise by Ibn Butlan.
Ilustração do Tacuinum sanitatis, livro medieval sobre o bem-estar, baseado no Taqwim al sihha (Tábuas da Saúde), um tratado médico árabe de Ibn Butlan. | Illustration from “Tacuinum sanitatis”, a medieval book on well-being, based on the Taqwim al sihha (Tablets of Health), an Arabic medical treatise by Ibn Butlan.
Ilustração do Tacuinum sanitatis, livro medieval sobre o bem-estar, baseado no Taqwim al sihha (Tábuas da Saúde), um tratado médico árabe de Ibn Butlan. | Illustration from “Tacuinum sanitatis”, a medieval book on well-being, based on the Taqwim al sihha (Tablets of Health), an Arabic medical treatise by Ibn Butlan.

At the beginning of the Portuguese Maritime Expansion, cuisine was one of the main means of fraternization and good understanding with unknown peoples. The interpenetration or cultural miscegenation between Mediterranean Europe, Africa and India (in the territories of Goa, Daman and Diu), is very evident in its rich gastronomy, such as "Cabidela", a delicacy that crossed the seas in the caravels and ships of the Cape Route, with African countries being the first to willingly adopt these cabidelas, sarrabulhos and sarapatéis, adapting them to the taste and products of the land.

With the Portuguese Discoveries, at the end of the 15th century, during long transoceanic voyages, experience showed navigators that the consumption of citrus fruits, such as oranges, lemons, and acid preserves avoided the scourge of scurvy, so pickles became part of the of the ships' crews.

Diogo Cão, in his two voyages in search of the Cape of Africa, establishes diplomatic relations with Manicongo, the king of Congo, who sends him his ambassador Caçuta with a request that King João II send him priests to make Christians and bakers to teach their women how to make bread the Portuguese way.

Portugal was a major exporter of salt to Northern Europe and also sold this product on the African coast, as African people soon realized the importance of the product for food preservation. Salt was also useful for preserving the meat of animals that they hunted and fished for food, as well as the skins of sea lions, for later tanning. It also had the advantage of serving as ballast, necessary for the stability of ships, being replaced on the return journey by new goods.

Many of the plants that were brought as evidence of these "findings" from lands unknown to Europeans, adapted very well to the temperate climates of Europe, becoming part of their agriculture.

From Portugal, citrus trees and others such as the fig tree, whose dried figs were sent to the ships as food for the crews, or the pomegranate tree, from whose bark infusions were made to combat diarrhea in crew and travelers, left for Africa.

The Portuguese introduced vinegar into Indian cuisine and, later, the Franciscan friars of the Goa mission began to make vinegar from palm wine, called "toddy" "Chacuti" or "xacuti" is a dish of Indo-Portuguese cuisine made with chicken, goat or beef, and can also be prepared with fish, cooked with vinegar. 

Vinegar is the fundamental ingredient in the preparation of "Balchão" or "Balchao", a traditional dish from Goa, Daman and Diu, a delicacy that shows how the Portuguese made the first globalization of the Modern Age, as the Goan term "balchao" derives from the Macanese, "balichão", a typical sauce of Macau cuisine, made with prawns, brandy, salt, pepper, bay leaf and chillies, among other ingredients, which went to India by the Portuguese. 

As for "Porco Vindalho" or "Vindaloo", it is a pork in vine with garlic, a typical dish of the Indo-Portuguese cuisine of Goa, Damão and Diu. The name results from the contraction of the expression "Vinha d'alhos", a seasoning that was later adapted to the local taste, complemented with chilli peppers and spices.


in "História dos Paladares - Sedução, Perdição, Redenção" (2020-2022), Deana Barroqueiro.
Trilogia premiada com o Prix Internationale de La Literature Gastronomique, da Académie Internatinale de La Gastronomie; Gourmand World Cookbook Awards - History of Culinary and Series; Gourmand Best in the World Award.

in "History of Flavours - Seduction, Perdition, Redemption" (2020-2022), Deana Barroqueiro.
Trilogy awarded with the Prix Internationale de La Literature Gastronomique, from the Académie Internatinale de La Gastronomie; Gourmand World Cookbook Awards - History of Culinary and Series; Gourmand Best in the World Award.